A CASA DE DEUS:

A GRANDE CASA DE DEUS


Um lar para o seu coração

Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei:

que possa morar na casa do Senhor todos

os dias da minha vida.

SALMOS 27.4

MAX  LUCADO

GOSTARIA DE CONVERSAR COM VOCÊ sobre a sua casa. Vamos entrar pela porta da frente e andar um pouco. De vez em quando é bom fazer uma inspeção no lar, você sabe — checar o telhado para ver se não há goteiras, examinar as paredes e a fundação para ver se não há rachaduras. Veremos se os armários da cozinha estão abastecidos e daremos uma olhada nos livros que estão sobre a estante de sua sala de estudos.

Mas o que é isso? Você acha que é curiosidade minha querer olhar sua casa? Você pensou que este fosse um livro de temas espirituais? E é. Perdoe-me, eu deveria ter sido mais claro. Não estou falando de sua casa visível, de pedra ou estuque, de madeira ou palha, mas daquela invisível, feita de pensamentos, verdades, convicções e esperanças. Estou falando de sua casa espiritual.







A GRANDE CASA DE DEUS

Você tem uma, você sabe. E não é uma casa típica. Convoque suas mais aficionadas idéias sobre o assunto, e a casa da qual estou falando excederá a todas elas. Um grande castelo tem sido construído para o seu coração. Assim como a casa física existe para a proteção do corpo, a casa espiritual existe para a proteção da alma.

Você nunca viu uma casa mais sólida:

o telhado nunca goteja,

as paredes nunca racham,

e o alicerce nunca estremece.

Você nunca viu um castelo mais esplêndido:

o mirante alargar-lhe-á a visão,

a capela o tornará humilde,

a sala de estudos lhe dará direção,

e a cozinha o nutrirá.

Já morou numa casa como essa? Possivelmente não. É mais provável que você tenha dado pouca importância ao alojamento de sua alma. Criamos casas elaboradas para nossos corpos, mas nossas almas são relegadas a uma choupana na encosta, onde o frio da noite nos envolve e a chuva nos encharca. É de admirar que o mundo esteja tão cheio de corações gelados?

Não tem de ser desse jeito. Não temos de morar do lado de fora. Não é plano de Deus que o seu coração perambule como um beduíno. Deus quer que você saia do frio exterior e viva... com Ele. Sob seu teto há espaço disponível. À sua mesa, um lugar está posto. Em sua sala de estar, há uma cadeira reservada para você. E Ele quer que você vá morar em sua casa. Mas... por que desejaria Ele que você lhe partilhasse o lar?

Simples. Ele é seu Pai.

Você foi feito para viver na casa de seu Pai. Qualquer lugar menos que o dEle é insuficiente. Qualquer lugar longe dEle é perigoso. O único lugar capaz de proteger-lhe o coração é o lugar para o qual ele foi construído. E seu Pai quer que você habite nEle.

Não, você não leu errado a frase, nem eu a escrevi mal. Seu Pai não apenas o convida a morar com Ele, mas a viver





Um lar para o seu coração

nEle. É como escreveu Paulo — " Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos" (At 17.28).

Não pense que você está separado de Deus; Ele no topo de uma grande escada de mão, e você em outra. Não admita a idéia de que Deus está em Vênus e você na Terra. Já que Deus é Espírito (Jo 4.23), Ele está perto de você: o próprio Deus é o seu teto. O próprio Deus é a sua parede. E o próprio Deus é o seu alicerce.

Moisés sabia disso. "Senhor", orou ele, "tu tens sido a nossa habitação desde o princípio" (SI 90.1). Que pensamento poderoso! Deus como sua habitação! Sua casa é o lugar onde você pode arrancar os sapatos, comer picles com cream cracker, e não se preocupar com o que as pessoas vão pensar se o virem de roupão.

Sua casa lhe é familiar. Ninguém tem de lhe dizer onde fica seu quarto. Você não precisa ser dirigido até a cozinha. Após um árduo dia debatendo-se para achar seu caminho no mundo, é animador vir para casa — um lugar que você conhece. Deus pode ser igualmente familiar. Com o tempo, você aprenderá aonde ir para alimentar-se, onde esconder-se para sentir-se protegido, onde receber orientação. Assim como sua casa terrena é um lugar de refúgio, a Casa de Deus é um lugar de paz. A Casa de Deus nunca foi saqueada; suas paredes nunca foram violadas.

Deus pode ser sua habitação

Deus quer ser sua habitação. Ele não tem interesse em ser um refúgio para o fim de semana, um bangalô para o domingo, ou um chalé para o verão. Não cogite usar Deus como uma cabana de férias, ou um retiro ocasional. Ele quer você sob o seu teto agora e sempre. Ele quer ser seu endereço, seu ponto de referência; quer ser o seu lar. Ouça a promessa de seu Filho: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada" (Jo 14.23).

Para muitos, esta é uma idéia nova. Pensamos em Deus como uma deidade a ser estudada, não um lugar para morar. Pensamos em Deus como um fazedor de milagres, não um lar para viver. Pensamos em Deus como um Criador a quem apelar,



A GRANDE CASA DE DEUS

não uma casa onde residir. Mas nosso Pai quer ser muito mais. Ele quer ser aquele em quem "vivemos, nos movemos e existimos" (At 17.28).

Quando Jeová guiou os filhos de Israel através do deserto, não aparecia uma vez ao dia e em seguida os abandonava. A coluna de fogo estava presente toda a noite; a nuvem estava presente todo o dia. Nosso Deus nunca nos deixa. "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos", prometeu Ele em Mateus 28.20. Nossa fé dá um salto quando compreendemos a perpétua presença do Pai. Nosso Jeová é o fogo de nossa noite e a nuvem de nosso dia. Ele nunca nos abandona.

O céu não conhece diferença entre manhã de domingo e tarde de quarta-feira. Deus fala claro em nosso local de trabalho, tanto quanto o faz no santuário. Ele tanto pode ser adorado em nossa mesa de jantar, como em sua mesa de comunhão. Você pode passar dias sem pensar nEle, mas Ele não passa um momento sem pensar em você.

Sabendo disso, compreendemos o rigor da meta de Paulo: "... levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo" (2 Co 10.5). Podemos perceber por que ele insiste conosco — "orai sem cessar" (1 Ts 5.17), "perseverai na oração" (Rm 12.12), "orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito" (Ef 6.18), "ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor" (Hb 13.15), e "deixe que o céu se encha com seus pensamentos" (versão livre de Cl 4.2).

Davi, o homem segundo o próprio coração de Deus, confessou: "Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor e aprender no seu templo. Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá" (SI 27.4,5). O que é esta Casa de Deus tão aspirada por Davi? Estaria o salmista descrevendo uma estrutura física? Estaria almejando um edifício com quatro paredes e uma porta, através da qual pudesse entrar, mas nunca sair? Não. "Deus... não habita em templos feitos por mãos de homens" (At 17.24). Ao afirmar que habitaria "na casa do Senhor para todo o sempre" (SI 23.6, Almeida Revista



Um lar para o seu coração

e Atualizada, ARA), Davi não estava dizendo que queria viver separado do povo, mas que ansiava por estar na presença de Deus, onde quer que fosse.

Davi anelava estar na Casa de Deus.

Sei o que você está pensando: Certo, Max, mas ele era Davi. Era o poeta, o príncipe, o matador de gigantes. Ele nunca teve tanques de carro para abastecer, ou fraldas para trocar, ou um patrão respirando prazos, como um dragão soltando fogo pelas narinas. Eu também adoraria viver na Casa de Deus, mas por ora estou emperrado no mundo real.

Perdão, permita-me discordar. Você não está emperrado no mundo. E justamente o oposto: você está a um passo da Casa de Deus. Onde quer que você esteja. Qualquer que seja o momento. Quer esteja no escritório em plena quinta-feira, ou pescando num sábado, apenas uma decisão o separa da presença do Pai. Você nunca precisa deixar a Casa de Deus. Não necessita mudar seu CEP, nem trocar de vizinhos. Tudo o que precisa mudar é a sua percepção.

Quando seu carro fica preso no tráfego, você pode entrar na capela do Pai. Quando o vento da tentação lhe desequilibrar os passos, ande junto ao muro da sua força. Quando os empregados o depreciarem, sente-se no balanço do alpendre com o seu Pai; Ele o confortará. Lembre-se, esta não é uma casa de tijolos. Você não a encontrará no mapa. Não achará a sua descrição nos classificados de imóveis.

Não obstante, há de encontrá-la em sua Bíblia. Você já viu a planta. Leu os nomes dos aposentos e declamou o layout. Você está familiarizado com o design, mas há chances de que você jamais o tenha considerado um projeto de casa. Você enxergou nos versículos uma oração.

De fato, eles são. São a oração do Senhor. Seria difícil encontrar alguém que não tivesse recitado a oração ou lido as palavras:

Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade,



A GRANDE CASA DE DEUS

tanto na terra como no céu.

O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.

Perdoa-nos as nossas dívidas,

assim como nós perdoamos

aos nossos devedores.

E não nos induzas à tentação,

mas livra-nos do mal;

porque teu é o Reino, e o poder, e a glória,

para sempre.

Amém!

Mateus 6.9-13

Crianças a memorizam. Fariseus a recitam. Estudiosos a esquadrinham... Quero, porém, desafiar a nós mesmos a fazer algo diferente. Quero que moremos nela; quero que a vejamos como o assoalho de nossa casa espiritual. Nesses versículos, Cristo providenciou-nos mais que um modelo de oração; providenciou-nos um modelo de vida. Essas palavras fazem mais do que nos ensinar o que dizer a Deus; ensinam-nos como existir com Ele. Elas descrevem uma grande casa, dentro da qual os filhos de Deus foram programados a viver — com Ele, para sempre.

Gostaria de dar uma olhada? Eu também. Conheço o lugar perfeito para se começar. Na sala de estar, um quadro está pendurado acima da lareira. O dono da casa o aprecia. Ele convida todos os que entram a começarem sua jornada fitando atentamente o quadro e aprendendo a verdade sobre o nosso Pai.



A SALA DE ESTAR

Quando nosso coração necessita de um Pai

Pai nosso...

PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS... Com estas palavras, Jesus escolta-nos à grande Casa de Deus. Devemos segui-lo? Há tanto para ver. Cada sala revela o coração do Pai; cada parada confortará a sua alma. E nenhuma sala é tão essencial quanto esta onde entramos primeiro. Caminhemos atrás dEle, enquanto nos introduz na sala de estar de Deus.

Sente-se na cadeira que foi feita para você e aqueça as mãos no fogo que nunca se apaga. Tire um tempinho para olhar as fotos emolduradas e achar a sua. Não se esqueça de pegar o álbum de recortes e localizar a história de sua vida. Mas, por favor, antes disso, poste-se ante a lareira e examine o quadro pendurado acima dela.

Seu Pai estima muito esse retrato. Ele o pendurou onde todos o possam ver.









A SALA DE ESTAR

Pare diante dele milhares de vezes, e cada olhada será como a primeira. Deixe que um milhão de pessoas fitem a pintura, e cada uma verá a si própria. E todas estarão certas.

Capturada no retrato está a terna cena de um pai e um filho. Atrás deles há uma grande casa sobre a colina. Sob seus pés passa um caminho estreito. Descendo da casa, o pai vem correndo. Subindo a trilha, o filho se arrasta. E ambos encontram-se no portão.

Não podemos enxergar a face do filho, mas podemos ver-lhe o manto esfarrapado e o cabelo pegajoso. Podemos notar a lama atrás de suas pernas, a sujeira em seus ombros, e a bolsa vazia no chão. Um dia, essa bolsa já foi cheia de dinheiro. Um dia, esse rapaz já foi cheio de orgulho. Isso, porém, uma dúzia de tabernas atrás. Agora, a bolsa e o orgulho esvaziaram-se. O pródigo não oferece presente nem explicação. Tudo o que ele oferece é o cheiro de porcos e uma desculpa ensaiada: "Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho" (Lc 15.21).

Ele não se sente merecedor de seus direitos de primogenitura. "Degrada-me. Pune-me. Tira meu nome da caixa do correio e minhas iniciais da árvore genealógica. Estou disposto a desistir de meu lugar à mesa".

O moço contenta-se em ser um empregado. Há apenas um problema: embora o jovem esteja disposto a deixar de ser filho, o pai não está disposto a deixar de ser pai.



Nosso Aba



Dentre todos os seus nomes, o favorito de Deus é Pai. Sabemos que Ele ama este nome, porque é o que Ele mais usa. Enquanto esteve na Terra, Jesus chamou Deus de Pai mais de duzentas vezes. Em suas primeiras palavras registradas, Jesus elucidou: "Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?" (Lc 2.49, ARA). Em sua última e triunfante oração, Ele proclamou: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23.46). Só no Evangelho de João, o Senhor Jesus repetiu este nome 156 vezes. Deus gosta de ser chamado de Pai. Além do que, Jesus não nos ensinou a começar nossa oração com a frase "Aba nosso"?



Quando nosso coração necessita de um Pai

É difícil para nós entendermos o quanto foi revolucionário haver Jesus chamado Jeová de Aba. O que hoje é uma prática habitual, nos dias de Jesus era algo incomum. Joachim Jeremias, erudito no Novo Testamento, descreve quão raramente o termo era usado:

Com a ajuda de meus assistentes, examinei a literatura devocional do antigo judaísmo... O resultado desses exames foi que, em lugar algum dessa vasta literatura, foi achada a invocação de Deus como "Aba, Pai". Aba era uma palavra comum; uma palavra familiar e corriqueira. Nenhum judeu teria ousado tratar Deus dessa maneira. Não obstante, Jesus o fez em todas as suas orações a nós legadas, com uma única exceção: o brado da cruz — "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Na oração do Senhor, Jesus autorizou os discípulos a repetirem a palavra Aba depois dEle, dando-lhes o direito de partilharem sua condição de Filho. Autorizou-os a falar com o seu Pai celeste de um modo mais confiante e familiar.1

As duas primeiras palavras da oração do Senhor são plenas de significado: "Pai nosso" lembra-nos que somos bem-vindos à Casa de Deus porque fomos adotados pelo dono.



A missão de Deus: adoção

Quando vamos a Cristo, Deus não apenas nos perdoa, como também nos adota. Através de uma série de eventos dramáticos, passamos de órfãos condenados sem nenhuma esperança a filhos adotados sem qualquer medo. Veja como acontece: você chega perante a cadeira de julgamento de Deus cheio de erros e rebeliões. Por causa de sua justiça, Ele não pode deixar de lado o seu pecado, mas por causa de seu amor, Ele não pode deixar você de lado. Então, num ato que atordoa os céus, Ele pune a si mesmo sobre a cruz, por seus pecados. A justiça e o amor de Deus são igualmente honrados. E você, criação de Deus, é perdoado. Entretanto, a história não termina com o perdão de Deus.

Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual



A SALA DE ESTAR

chamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.15,16).

Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos (Gl 4.4,5).

Seria suficiente se Deus apenas limpasse seu nome, mas Ele fez mais: deu a você seu próprio nome. Bastaria se Deus apenas o tivesse posto livre, mas Ele fez mais. Ele levou você para casa. Levou-o para a grande Casa de Deus.

Pais adotivos compreendem isso melhor que ninguém. Certamente não quero ofender qualquer pai biológico — eu mesmo sou um. Nós, pais biológicos, conhecemos bem a ânsia de ter um filho. Porém, em muitos casos, nossos berços são facilmente preenchidos. Decidimos ter um filho, e o filho vem. Na verdade, às vezes ele vem sem que tenha havido qualquer decisão. Tenho sabido de gravidezes não planejadas, mas nunca ouvi falar de uma adoção sem planejamento.

Eis porque os pais adotivos compreendem a paixão de Deus ao nos adotar. Eles sabem o que significa sentir um espaço vazio dentro de casa. Sabem o que significa a longa procura, o colocar-se a caminho de uma missão e aceitar a responsabilidade por uma criança com um passado maculado e um futuro incerto. Se há alguém que compreende a paixão de Deus por seus filhos, é aquele que livrou um órfão do desespero, pois foi isto o que Deus fez por nós.

Deus adotou-nos. Deus procurou você, achou-o, assinou os papéis e levou-o para casa.

O motivo de Deus: devoção

Como pastor, tenho tido o privilégio de testemunhar — de perto — a emoção do processo de adoção. Certa vez, uma senhora de outro Estado que me ouvira pregar ligou e perguntou-me se eu conhecia algumas pessoas que tinham a perspectiva de se tornarem pais adotivos. Sua filha grávida estava procurando um lar para o bebê que nasceria. Coloquei-a em contato





Quando nosso coração necessita de um Pai

com uma família de nossa congregação e tomei o primeiro assento na fila de bancos da igreja, enquanto o drama se desenrolava.

Vi a alegria naquela possibilidade e o coração partido frente aos obstáculos. Vi a resolução nos olhos do pai e a determinação nos olhos da mãe. Eles viajariam tão longe quanto necessário e gastariam cada centavo do que tinham. Queriam adotar aquela criança. E o fizeram. Apenas alguns momentos após o nascimento, o bebê estava em seus braços. E isso não é exagero: eles sorriram por um mês depois que levaram o filho para casa. Do púlpito, eu podia vê-los na congregação, embalando o bebê e sorrindo. Penso que se tivesse pregado um sermão sobre a agonia do Inferno, eles teriam rido em cada frase. Por quê? Porque, finalmente, um filho havia chegado ao seu lar.

Deixe-me perguntar-lhe: Por que esse casal adotou aquela criança? Eles tinham um matrimônio feliz. Eram bem empregados e tinham segurança financeira. O que eles esperavam lucrar? Teriam adotado o bebê só para que pudessem ter pouco dinheiro em caixa e noites sem dormir? Você bem sabe. O suprimento de ambos começou a diminuir no minuto em que trouxeram o bebê para casa. Então, por quê? Por que as pessoas adotam crianças? Enquanto você pensa, deixe-me contar-lhe por que Deus o faz.

Deleite-se nestas palavras:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade. E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade (Ef 1.3-5, ênfase minha).

E você achava que Deus o tivesse adotado porque você era bonito. Achava que Ele precisava de seu dinheiro ou sabedoria. Sinto muito. Deus o adotou simplesmente porque quis. Foi um gesto de sua boa vontade e favor. Conhecendo muito bem o problema que você seria, e o preço que pagaria, Deus escreveu o nome dEle junto ao seu, trocou seu nome pelo dEle e levou você para casa. Seu Aba o adotou e tornou-se seu Pai.



A SALA DE ESTAR

Posso fazer uma pausa de apenas um segundo? A maioria está comigo... mas alguns meneiam a cabeça. Posso até ver o piscar de olhos. Você não me acredita, não é? Está esperando pela cláusula de rodapé impressa em letras miúdas; querendo ver onde está o truque. Você sabe que na vida não existe "boca-livre"; então fica esperando pela conta.

Seu desconforto é óbvio. Nem aqui, na sala de estar de Deus, você se solta. Os outros calçam chinelos, você veste peitilho. Os outros relaxam, você entesa. Sempre bem-comportado, receando tropeçar e ser posto para fora por Deus haver notado o deslize.

Entendo sua ansiedade. Nossa experiência com as pessoas tem nos ensinado que aquilo que é prometido e aquilo que é dado nem sempre são a mesma coisa. E, para alguns, a idéia de confiar num Pai celeste é duplamente difícil, já que seus pais terrenos foram fonte de desapontamentos ou maus-tratos.

Se é este o caso, insisto com você: não confunda seu Pai celeste com os pais que você vê na Terra. Seu Pai do céu não é propenso a dores de cabeça e acessos de raiva. Ele não pega no colo num dia e espanca no outro. O homem que você tem por pai pode fazer tais coisas, mas o Deus que o ama jamais o fará. Posso provar meu ponto de vista?

O método de Deus: redenção

Retornemos às passagens que descrevem sua adoção. Leia-as uma segunda vez e veja se pode achar o verbo que precede a palavra "adoção" em ambos os versículos.

Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual chamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.15,16).

Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos (Gl 4.4,5).

Achou? Não é tão difícil ver, é? Antes da palavra "adoção" está o verbo "receber".



Quando nosso coração necessita de um Pai

Poderia Paulo ter usado outra frase? Poderia ele haver dito "merecestes o espírito de adoção de filhos"? ou "a fim de merecermos a adoção de filhos"? Suponho que ele poderia ter dito isso, mas nós não teríamos engolido. Você e eu sabemos que uma adoção não é algo que merecemos; é algo que recebemos. Ser adotado por uma família não é uma façanha que alguém realiza, mas um presente que se aceita.

Os pais são os ativos. As agências de adoção não treinam filhos para recrutar pais; elas procuram pais para adotar filhos. Os pais fazem a solicitação, preenchem os papéis, suportam as entrevistas, pagam a taxa e encaram a demora. Você pode imaginar um casal de futuros pais adotivos dizendo: "Gostaríamos de adotar o Joãozinho, mas primeiro queremos saber algumas coisas. Ele tem uma casa para viver? Ele tem dinheiro para custear sua instrução? Ele tem transporte para ir à escola todas as manhãs e roupas para usar todos os dias? Ele pode preparar sua própria refeição e remendar suas próprias roupas?"

Nenhuma agência tolera tal conversa. Sua representante levantaria a mão e diria: "Um momento. Você não entende. Você não adota o Joãozinho pelo que ele tem; você o adota pelo que ele necessita. Ele necessita de um lar".

O mesmo se aplica a Deus. Ele não nos adota pelo que possuímos. Não nos dá seu nome por causa de nossa inteligência, ou nossa carteira, ou nosso bom comportamento. Paulo explica o fato duas vezes porque está duplamente interessado em que compreendamos que a adoção é algo recebido, não conquistado.

É muito bom saber disso. Por quê? Pense cuidadosamente. Se pudéssemos obter nossa adoção através de nossa performance espetacular, poderíamos perdê-la por causa de nossa pobreza?

Quando eu tinha sete anos, fugi de casa. Eu estava cheio das regras de minha mãe, e decidi que podia fazer as coisas do meu jeito. Com minhas roupas numa sacola de papel, saí pisando duro pelo portão dos fundos e marchei rua abaixo. Igual ao filho pródigo, resolvi que não precisava de pai. Diferente do filho pródigo, não fui muito longe. Cheguei ao final







A SALA DE ESTAR

da aléia e lembrei-me de que estava com fome; então voltei para casa.

Não obstante curta, aquilo foi uma rebelião. E, houvesse você me parado naquele caminho pródigo, entre as sebes, e me perguntado quem era meu pai, eu poderia ter-lhe contado como me sentia. Eu simplesmente poderia ter dito: "Não preciso de um pai. Sou grande demais para as regras de minha família. Sou apenas eu. Eu e minha bolsa de papel". Não me lembro de haver dito isso a alguém, mas lembro-me de havê-lo pensado. E também me recordo de meu embaraço ao entrar pela porta dos fundos e tomar meu lugar à mesa do jantar, diante do pai verdadeiro que eu tinha e que, momentos antes, eu renegara.

Ele sabia de minha insurreição? Suspeito que sim. Ele sabia de minha rejeição? Os pais geralmente sabem. Eu ainda era seu filho? Aparentemente, sim. (Ninguém havia sentado em meu lugar.) Houvesse você ido ao meu pai, depois de conversar comigo, e dito: "Seu Lucado, seu filho disse que não precisa de um pai. Você ainda o considera seu filho?", o que teria respondido ele? Nem preciso supor qual seria a sua resposta. Ele diria ser meu pai, mesmo quando eu negasse minha filiação. Seu comprometimento comigo era maior que o meu com ele.

Não ouvi o canto do galo como Pedro. Não experimentei o que é ser vomitado por um peixe, como Jonas. Não ganhei um manto, um anel e um par de sandálias, como o pródigo. Contudo, aprendi de meu pai terreno o que esses três aprenderam de seu Pai celeste. Nosso Deus não é um Pai só nos bons momentos. Ele não entra nessa de "ame-o e deixe-o engordar". Posso contar com Ele em meus apuros, não importa qual seja meu desempenho. Você também pode.

Posso mostrar-lhe algo? Olhe para a moldura inferior da tela. Vê as palavras gravadas a ouro? O apóstolo Paulo escreveu-as, porém seu Pai as inspirou.

Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 8.38,39).





Quando nosso coração necessita de um Pai

Seu Pai nunca o rejeitará. As portas desse aposento nunca estarão fechadas. Aprenda a demorar-se na sala de estar de seu Pai. Quando as palavras de alguém o ferirem, ou quando suas próprias faltas o afligirem, venha até a sala. Fite a pintura e lembre-se de seu Deus: é certo chamá-lo de Santo; dizemos a verdade quando o chamamos de Rei. Porém, se você quer tocar-lhe o coração, use o nome que Ele gosta de ouvir. Chame-o de Pai.



A FUNDAÇÃO

Onde a confiança começa

Pai nosso que estás...



A PALAVRA MAIS IMPORTANTE NA ORAÇÃO do Pai Nosso é bem curta. Cuidado para não deixar de notá-la. Muitas pessoas o fazem. A palavra é tão breve que passará despercebida, se você não for cuidadoso.

Sem ela, a grande Casa de Deus não pode ficar em pé. Remova-a, e a casa tombará ao chão.

Qual é a palavra? Vou dar uma dica. Você a leu agora mesmo.

Onde está ela? Você acabou de lê-la. Está nesta frase? Está. E está também na resposta que acabo de dar.

Ora, Max, você está brincando?

Eu zombaria de você? (De qualquer modo, a palavra está na pergunta que você fez. Consegue vê-la?)



AFUNDAÇÃO

Está. "Pai nosso que estás no céu".

Deus está. Não é Deus estava. Não é Deus estará. Não é Deus poderia estar, ou deveria estar, mas Deus está. Ele é o Deus do tempo presente. E Ele é a fundação de sua própria casa.

A argamassa da fé

Escrevi estas palavras em um avião. Um avião atrasado. Um avião diferente do que eu originalmente escolhera. Meu primeiro vôo fora cancelado devido a dificuldades mecânicas. Eu e mais algumas dúzias de pessoas não muito felizes fomos transferidos para outro avião. Enquanto fazíamos a checagem para o novo vôo, ouvi diversos dos meus companheiros de viagem perguntarem à atendente: "Este avião está O.K.? Há alguma falha mecânica com este 747?" Estávamos cheios de perguntas sobre a capacidade de voar da aeronave, porém a agente não tinha perguntas sobre a nossa capacidade de fazer o mesmo.

Nenhuma vez fomos indagados: "E você? Pode voar? Pode bater os braços e ser transportado pelo ar?" Claro, seriam perguntas bem esquisitas. Minha habilidade para voar não é importante. Minha força é coisa de somenos valor. Confio no avião para levar-me para casa.

Preciso fazer a relação? Seus feitos heróicos, leitor, por mais nobres que sejam, não são importantes. Suas credenciais, conquanto brilhantes, não interessam. Deus é a fundação desta casa. A pergunta-chave na vida não é "Quão forte sou eu?", mas "Quão forte é Deus?" Concentre-se na força dEle, não na sua Ocupe-se com a natureza de Deus, não com o tamanho de seus próprios bíceps.

Foi isso o que Moisés fez. Ou pelo menos foi o que Deus mandou que ele fizesse. Lembra-se da conversa na sarça em chamas? O tom foi estabelecido na primeira sentença: "Tira o teus sapatos de teus pés, porque o lugar em que tu estás é tem santa" (Êx 3.5). Com essas dezessete palavras, Moisés é matriculado numa classe sobre Deus. E os papéis são imediatamente definidos. Deus é santo. Aproximar-se dEle, ainda que sobre meio centímetro de couro, é pomposo demais. E à medida que



Onde a confiança começa

lemos, descobrimos que nenhum tempo é gasto convencendo Moisés do que este pode fazer, porém muito tempo é despendido explicando a Moisés o que Deus pode fazer.

Você e eu tendemos a fazer o contrário. Explicaríamos a Moisés que ele é a pessoa ideal para retornar ao Egito. (Quem compreende a cultura melhor que um príncipe?) Então lembraríamos a Moisés o quão perfeito ele é para viajar pelo deserto. (Quem conhece o deserto melhor que um pastor?) Gastaríamos tempo revisando com Moisés o seu curriculum vitae e a sua força. (Vamos, Moisés, você pode. Faça uma tentativa.)

Mas Deus não. A força de Moisés jamais é considerada. Nenhum estímulo é oferecido. Nenhum tapinha nas costas. Palavra alguma é dada para revigorar Moisés. Contudo, muitas palavras são usadas para revelar Deus. A força de Moisés não está em questão; a força de Deus é que está.

Devemos parar para uma aplicação? Vamos repetir esta última frase e deixar você preencher o espaço em branco. Substitua o nome de Moisés pelo seu.

A força de não está em discussão; a força de Deus é que está.

Você não é o impulso por trás da aeronave nem a argamassa dentro da fundação; Deus é. Eu sei que, em sua mente, você entende isso, mas compreende-o em seu coração? Gostaria de compreender? Deixe-me mostrar-lhe algumas das pedras que sustentam esta poderosa casa. Deixe-me fortalecer sua confiança na Casa de Deus, partilhando com você alguns dos seus nomes.

O que há num nome?

Entender os nomes de Deus não se consegue com um estudo rápido, afinal, só no Antigo Testamento existem mais de oitenta nomes para Deus. Porém, se você quer um ponto por onde começar, deixe-me "seduzi-lo" com alguns nomes compostos dados pelos heróis da fé. Cada um deles revela uma pedra diferente do caráter de Deus.





A FUNDAÇÃO

Talvez você esteja admirado de como um estudo dos nomes de Deus pode ajudar a entendê-lo. Deixe-me explicar: imagine que você e eu estivéssemos tendo uma conversa em 1978. Você iria se aproximar de mim no campus da universidade onde eu estudava, e me perguntaria:

— Você conhece Denalyn Preston?

— Deixe-me pensar — teria respondido eu. — Oh, conheço Denalyn. Ela é uma de minhas conhecidas. É aquela garota bonitinha que gosta de andar de bicicleta e usa macacão na aula. — Isso era tudo o que eu saberia sobre ela.

Avance porém um ano. Agora estamos em Miami, Flórida, onde sou um pastor, e Denalyn, uma professora.

— Você conhece Denalyn Preston?

— Claro que sim. Ela é uma amiga. Eu a vejo todos os domingos.

Pergunte-me novamente um ano mais tarde.

— Denalyn Preston? Certamente que a conheço. Ela não

tira os olhos de mim. (Brincadeirinha, minha querida.)

Corra dozes meses adiante.

— Quem não conhece Denalyn Preston? — responderia eu.

— Acho que ela está disposta a marcar um encontro comigo.

Seis meses mais tarde...

— Claro que a conheço, não consigo deixar de pensar nela.

Semana que vem, vamos sair juntos outra vez.

Dois meses depois...

— Se conheço Denalyn Preston? Vou me casar com ela no

próximo mês de agosto!

Agora é agosto de 1981.

— Se conheço Denalyn Preston? Não, mas conheço

Denalyn Lucado. Ela é minha esposa, e pare de nos amolar;

estamos em lua-de-mel.

Em três anos, meu relacionamento com Denalyn tornou-se mais complexo. E com cada mudança veio um novo nome. Ela foi de conhecidas amiga, depois paquera, a namorada, a noiva e a esposa. Logicamente, a sucessão de nomes continuou. Agora ela é confidente, mãe de minhas filhas, sócia vitalícia, patroa (só brincadeirinha, de novo). Quanto mais a conheço, mais nomes lhe dou.





Onde a confiança começa

E quanto mais o povo de Deus vem a conhecê-lo, mais nomes lhe dá. Inicialmente, Deus era conhecido como Elohim. "No princípio criou Deus {Elohim)" (Gn 1.1). A palavra hebraica Elohim tem o significado de "alguém forte ou criador", e aparece trinta e uma vezes no primeiro capítulo de Gênesis, onde vemos o seu poder criativo.1

Entretanto, à medida que Deus se revelava a seus filhos, estes passaram a ver nEle mais que uma força poderosa. Viram-no como o Pai amoroso, que os encontrava em cada encruzilhada de suas vidas.

Jacó, por exemplo, passou a ver Deus como Jeová-Raah, um afetuoso pastor. "Como um pastor", relatou Jacó à sua família, "Deus me tem guiado toda a minha vida" (Versão livre de Gn 48.15).

A frase foi, certamente, um elogio para Deus, pois Jacó era menos que uma ovelha cooperadora. Duas vezes enganou o próprio irmão. Da última vez, ludibriou também o pai que estava cego. Fraudou seu sogro trapaceiro; observava-lhe o rebanho e, quando os companheiros não estavam olhando, agia como um coiote furtivo no meio da noite, fugindo com algo que não estava no acordo.

Jacó nunca foi um candidato ao prêmio de ovelha mais bem-comportada, porém Deus nunca o esqueceu. Deu-lhe alimento na escassez, perdoou-lhe as faltas, e foi-lhe fiel. Peça a Jacó para descrever Deus em uma palavra, e ela será Jeová-Raah, o afetuoso pastor.

Abraão tinha um nome diferente para Deus: Jeová-Jiré, O Senhor que prove. É irônico que ele chamasse Deus de "provedor", uma vez que já era bem provido. Ele morava numa tenda suntuosa, com quatro camelos na garagem. A vida era boa em Ur. "Mas a vida será melhor em Canaã", explicou ele à sua família. E assim, eles se foram. Quando lhe perguntaram "Onde iremos viver?", Abraão respondeu: "Deus provera". E Ele o fez. Quando eles dividiram as terras, e o sobrinho Ló ficou com as pastagens, deixando o tio Abraão com as rochas, quiseram saber: "Como sobreviveremos?" Abraão sabia a resposta: "Deus provera". E Ele o fez. E quando Abraão e Sara postaram-se ante o berço vazio, e







A FUNDAÇÃO

ela inquiriu como ele seria o pai de milhares, ele pôs os braços à volta dela e cochichou: "O Senhor provera".

E Deus o fez. E Abraão embalou seu primeiro filho sobre os ossudos joelhos de cem anos. Abraão aprendera que Deus prove. Porém, mesmo Abraão deve ter sentido a cabeça girar quando Deus lhe pediu para sacrificar o filho sobre o monte Moriá.

Eles subiram a montanha. "Onde está o cordeiro para o holocausto?", perguntou-lhe o filho (Gn 22.7). Alguns admiram-se de como a resposta passou pelo nó na garganta de Abraão: "Deus provera para si o cordeiro para o holocausto, meu filho" (v. 8). Jeová-Jiré, o Senhor provera. Abraão atou o filho, colocou-o sobre o altar, levantou o cutelo e... o anjo paralisou-lhe a mão. Abraão tinha provado sua fé. Ele ouviu um ruído na moita, olhou, e viu um carneiro preso no arbusto pelos chifres. Ofereceu-o em sacrifício e deu à montanha o nome de Jeová-Jiré, o Senhor prove.

E depois houve Gideão. O Senhor veio a Gideão e disse-lhe para liderar seu povo na vitória contra os midianitas. Foi como se Deus dissesse para uma dona de casa resistir ao marido violento, ou para um colegial tomar conta de um traficante, ou para um pregador anunciar a verdade numa congregação de fariseus. "M-m-melhor m-m-mandar o-o-outra pessoa", gaguejamos nós. Mas então Deus nos lembra que Ele sabe que não podemos, porém Ele pode. E para prová-lo, dá-nos um dom maravilhoso. Envia-nos o espírito de paz. Paz diante da tempestade. Uma paz além da lógica, ou, como a descreveu Paulo: uma paz "que excede todo o entendimento" (Fp 4.7). Ele a concedeu a Davi após mostrar-lhe Golias; deu-a a Saulo, depois de mostrar-lhe o Evangelho; deu-a a Cristo, após mostrar-lhe a cruz. E deu-a a Gideão. Então Gideão, em troca, deu um nome para Deus. Ele construiu um altar e chamou-o de Jeová-Shalom, o Senhor é paz (Jz 6.24).

Finalmente, um par de seixos sob a casa conheceu o cinzel de Moisés. Sobre um, ele gravou o nome Jeová-Rafá. Você encontrará a tradução em Êxodo 15.26: "Eu sou o Senhor que te sara". Eis o cenário: mais de um milhão de israelitas tinham sido libertados do cativeiro, e seguiam Moisés através do deserto





Onde a confiança começa

Sua jubilação pela libertação logo tornou-se em frustração por causa da desidratação. (Não se aflija. Trabalhei dez minutos nesta frase, e pelejei com dois editores para mantê-la assim, com toda a ressonância.) Eles andaram três dias através de uma terra vazia de sombras, rios, casas e verduras. Seus únicos vizinhos eram o sol e as serpentes.

Finalmente, vieram dar num lago, mas as águas eram salobras, amargas e perigosas. Estou certo de que não foi nada divertido na ocasião, mas você teria rido à socapa do que aconteceu a seguir. "E ele clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe um lenho" (Êx 15.25). Moisés está implorando água, e Deus lhe dá um pedaço de pau?!

Façamos uma pausa e computemos o prejuízo. Três dias no sol do deserto. Esperanças aumentadas à vista do lago. Esperanças desfeitas ao provar a água. Moisés, de garganta seca e lábios ressequidos, clama por alívio e... Deus lhe dá um galho de árvore?

Moisés reage arremessando o galho no lago. Talvez tenha feito por irritação: "Eis o que eu penso desta lenha inútil". Ou talvez por inspiração: "Tu estás cuidando, Deus". Seja qual for o motivo, a água é purificada, a sede dos israelitas é mitigada, e a Pessoa de Deus é glorificada. (Esta frase levou apenas cinco minutos.) Neste caso, o próprio Deus revelou seu nome: "Eu sou o Senhor que te sara" (Êx 15.26).

A palavra operante aqui é Eu. Deus é o que cura. Ele pode usar um ramo da medicina, um ramo do hospital, ou um ramo de carvalho, porém é Ele quem tira o veneno do organismo. Ele é Jeová-Rafá.

Ele também é Jeová-Nissi, o Senhor é minha bandeira. No fragor da batalha, os soldados temiam ser separados de seu exército. Por esta razão, uma bandeira era carregada dentro do conflito, e se um combatente se visse sozinho, a bandeira levantada assinalaria a segurança. Quando os amalequitas (os grandes e maus rapazes) atacaram os israelitas (os pequenos e bons rapazes), Moisés subiu ao monte e orou. Enquanto suas mãos permaneciam levantadas, os israelitas prevaleciam. Porém quando suas mãos baixavam, os amalequitas ganhavam terreno. Moisés não era estúpido — manteve as mãos levanta-







A FUNDAÇÃO

das. Os israelitas venceram, os amalequitas correram, Moisés construiu um altar para Deus e cinzelou um novo nome sobre uma pedra — Jeová-Nissi — o Senhor é minha bandeira (Êx 17.8-16).

Estes são apenas alguns dos nomes de Deus que lhe descrevem o caráter. Estude-os, pois, algum dia, você poderá precisar de cada um deles. Deixe-me mostrar-lhe o que quero dizer.

Quando você está confuso quanto ao futuro, vá para o seu Jeová-Raah, seu afetuoso pastor. Quando estiver ansioso por provisões, fale com Jeová-Jiré, o Senhor que prove. Seus desafios são grandes demais? Busque ajuda com Jeová-Shalom, o Senhor é paz. Seu corpo está doente? Suas emoções enfermaram? Jeová-Rafá, o Senhor que te cura, o examinará imediatamente. Você teme, como um soldado, ficar abandonado atrás das fileiras inimigas? Busque refugio em Jeová-Nissi, o Senhor é minha bandeira.

Meditar nos nomes de Deus faz você lembrar-se de seu caráter. Pegue estes nomes e enterre-os em seu coração.

Deus é

O pastor que conduz,

O Senhor que prove,

A voz que traz paz na tempestade,

O médico que cura o doente, e

A bandeira que guia o soldado.

E acima de tudo, Ele... é.





O OBSERVATÓRIO

Uma afeição celestial

Pai nosso que estás no céu...



ALGUMAS MANHÃS ATRÁS, eu estava correndo pela minha vizinhança. Tenho a fama de esquecer algumas datas importantes, porém nem mesmo eu esqueceria a importância daquele dia. Era o primeiro dia de aula. Os lembretes estavam em toda parte: entrevistas nos noticiários, lojas repletas de pais, ônibus amarelos despertados do sono de verão, retumbando pelas ruas. Minha própria família passara a noite anterior arrumando mochilas e preparando merendas.

Não foi surpresa para mim, então, ver uma linda garotinha sair de sua casa, usando roupa nova e uma mochila. Ela não devia ter mais de cinco ou seis anos, e ia caminhando em direção à guia, para esperar o ônibus.

— Tenha um grande primeiro dia de aula — desejei-lhe, enquanto acelerava o passo.



O OBSERVATÓRIO

Ela parou e olhou-me como se eu tivesse tirado um coelho da cartola.

— Como é que você sabe?!

Ela estava perplexa. De sua perspectiva, eu era um gênio. De algum modo, eu havia miraculosamente descoberto por que ela se levantara tão cedo, e para onde estava indo. E ela estava impressionada.

— Oh, eu simplesmente sei dessas coisas — gritei-lhe de

volta. (Não havia necessidade de estourar-lhe a bolha colori

da.)

Você, por outro lado, não está tão impressionado. Você sabe por que eu sabia. Você entende a diferença entre uma criança e um adulto. Os adultos vivem num mundo diferente do das crianças. Recorda-se de como seus pais o deixavam perplexo? Lembra-se de como seu pai podia identificar um carro que passava? Não ficava impressionado quando sua mãe, habilmente, transformava farinha, leite e ovos em um bolo? Enquanto meus pais discutiam o sermão de domingo, eu pensava: "Não entendi uma palavra do que o moço disse".

Qual a diferença? Simples. Em virtude do treino, estudo e experiência, os adultos ocupam um domínio diferente. Isto é ainda mais verdadeiro a respeito de Deus. Pegue a diferença entre a menina e eu, amplifique-a milhões de vezes mais, e começaremos a ver o contraste entre nós e nosso Pai. Quem dentre nós pode refletir sobre Deus, sem fazer a mesma pergunta que a garotinha: "Como é que você sabe?"

Pedimos graça, apenas para achar perdão já oferecido. (Como soube que eu pecaria?)

Pedimos alimento, apenas para achar a provisão já feita. (Como soube que eu estaria faminto?)

Pedimos orientação, apenas para achar respostas na antiga história de Deus. (Como soube que eu perguntaria?)

Deus vive num domínio diferente. "Porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria do homem, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem" (1 Co 1.25, NVI). Ele ocupa outra dimensão. "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais



Uma afeição celestial

altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos" (Is 55.8,9).

Note em especial a palavra como. Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos, nem são como os nossos. Nem mesmo chegamos perto. Nós pensamos: Preserve o corpo, Ele pensa: salve a alma. Sonhamos com um aumento salarial; Ele sonha pôr um fim ao salário do pecado. Esquivamo-nos do sofrimento e buscamos a paz; Ele usa o sofrimento para trazer a paz. "Vou viver antes que eu morra", resolvemos nós. "Morra, e então pode viver", instrui-nos Ele. Apegamo-nos ao que se corrói; Ele, ao que perdura. Regozijamo-nos com os nossos sucessos; Ele, com as nossas confissões. Mostramos aos nossos filhos as estrelas da Nike, com o sorriso de um milhão de dólares, e incentivamos: "Seja como o Ronaldinho". Deus aponta o carpinteiro crucificado, com os lábios ressecados e o lado sangrando, e intima: "Seja como Cristo".

Nossos pensamentos não são como os pensamentos de Deus. Nossos caminhos não são como os seus caminhos. Ele tem uma agenda diferente. Ele habita uma dimensão diferente. Vive num outro plano. E esse plano é mencionado na primeira frase da oração do Senhor: "Pai nosso que estás no céu ".

O observatório

Havendo-nos confortado na sala de estar, e tendo-nos assegurado com a fundação, Jesus nos conduz ao andar superior. Ascendemos ao nível mais alto da casa, postamo-nos ante uma pesada porta de madeira, e aceitamos o convite de Deus para entrar em seu observatório.

Nenhum telescópio é necessário nesta sala. O teto de vidro amplifica o Universo, até você sentir que todo o firmamento está descendo a sua volta. Elevado instantaneamente através da atmosfera, você é cercado pelos céus. Cascatas de estrelas passam por você, até você ficar atordoado com a quantidade. Se você fosse capaz de passar um minuto em cada planeta e estrela, uma vida inteira mal daria para começar.



O OBSERVATÓRIO

Jesus espera até que você esteja enlevado com todo esse resplendor, e então, suavemente, recorda-lhe: "Seu Pai está no céu".

Posso lembrar-me de alguns meninos que conheci em minha infância, cujos pais eram pessoas bem-sucedidas. Um era juiz; outro, um médico proeminente. Eu ia à igreja com o filho do prefeito. Em Andrews, Texas, não há muito para se orgulhar. Todavia, o menino tinha uma influência que a maioria de nós não possuía. "Meu pai tem um gabinete no palácio da justiça", podia ele reivindicar.

Adivinhe o que você pode declarar? "Meu Pai governa o universo".

Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes em toda a extensão da terra, e as suas palavras até ao fim do mundo (SI 19.1-5).

A natureza é o workshop de Deus. O Céu é o seu curriculum vitae. O Universo, o seu cartão telefônico. Você quer saber quem é Deus? Veja o que Ele tem feito. Quer conhecer o seu poder? Dê uma olhada em sua criação. Curioso sobre a sua força? Visite-o em seu endereço: Avenida Céu Estrelado, n° 1 bilhão. Quer conhecer-lhe o tamanho? Avance dentro da noite e contemple a luz estelar emitida milhares de anos atrás, e então leia 2 Crônicas 2.6: "Quem teria força para lhe edificar uma casa, visto que os céus e até os céus dos céus não o podem conter?"

A atmosfera do pecado não o macula, O tempo da história não o refreia, O cansaço do corpo não o embaraça.

Aquilo que controla você, a Ele não pode controlar. Aquilo que o preocupa não preocupa a Ele. O que fatiga você não fatiga a Ele. Uma águia é perturbada pelo tráfego? Não, pois se eleva acima dele. Uma baleia é incomodada pelo furacão? Claro que não, pois mergulha abaixo dele. O leão se



Uma afeição celestial

agita com o camundongo postado em seu caminho? Não, passa por cima dele.

Quanto mais Deus é capaz de elevar-se acima, mergulhar abaixo, e passar por cima dos transtornos da Terra! "Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível" (Mt 19.26). Nossas indagações traem nossa carência de entendimento:

Como Deus pode estar em toda parte ao mesmo tempo? (Quem disse que Deus é limitado por um corpo?)

Como Deus pode ouvir todas as orações que chegam a Ele? (Talvez os ouvidos dEle sejam diferentes dos seus.)

Como Deus pode ser o Pai, o Filho e o Espírito Santo? (Não seria a física do Céu diferente da que existe na Terra?)

Se as pessoas daqui não me perdoarem, quanto mais culpado eu sou perante um Deus santo? (Oh, justamente o contrário. Deus é sempre capaz de conceder graça quando nós, humanos, não podemos fazê-lo — Ele a inventou.)

Como é essencial que oremos munidos do conhecimento de que Deus está no Céu! Ore sem esta convicção, e suas orações serão tímidas, superficiais e ocas. Mas passe algum tempo andando pelo workshop dos céus, vendo o que Deus tem feito, e sinta como suas orações serão enérgicas.

Falando sobre workshop do Pai, deixe-me contar-lhe de uma visita que fiz quando tinha oito anos.

O workshop de Deus

O destaque dos lobinhos, meu grupo escoteiro, era a Caixa de Sabão Derby. Já ouviu de alguém em pé sobre uma caixa de sabão? Nós ficávamos dentro de nossas caixas de sabão para ganhar um troféu. A competição era simples. Construir um carrinho de madeira sem motor, entrar nele, e descer correndo um declive. Algumas das criações eram fantásticas, completas, com direção e cobertura pintada. Outras nada mais eram que um assento sobre um chassi de madeira, com quatro rodas e uma corda para a pilotagem. Meu plano era construir um genuíno conversível vermelho, como o que vira no manual do escoteiro. Armado com serrote, martelo, uma pilha de tábuas, e muita ambição, dispus-me a ser o Henry Ford da tropa 169.





O OBSERVATÓRIO

Não sei por quanto tempo meu pai esteve me olhando antes de interromper-me o trabalho. Provavelmente não muito, desde que meus esforços não constituíam uma visão agradável. O serrote emperrava, e a madeira empenava. Os pregos entortavam, e o painel não se ajustava. Misericordiosamente, papai interveio; bateu-me no ombro e convidou-me a segui-lo até o seu workshop.

A pequena casa branca no fundo do quintal era o domínio de meu pai. Nunca prestei realmente atenção ao que ele fazia lá. Tudo o que eu sabia era o que ouvia: serras zunindo, martelos batendo, e o assobio de um trabalhador feliz. Eu guardava minha bicicleta lá, contudo, nunca notara as ferramentas. Até então, eu não havia tentado construir algo. Pelas próximas duas horas, naquele dia, ele introduziu-me no mundo mágico dos cavaletes, esquadros, trenas e brocas. Mostrou-me como esboçar um plano e medir a madeira. Explicou-me por que é mais sábio martelar primeiro e pintar depois. Eu estava admirado. O que para mim era impossível, para ele era simples. Em uma tarde, tínhamos construído um bonito e respeitável veículo. E, embora eu não tenha saído da corrida com um troféu, saí com uma grande admiração por meu pai. Por quê? Eu passara algum tempo em sua oficina.

Você está me acompanhando, não está? Mostrando-nos os céus, Jesus mostra-nos a oficina de seu Pai. Ele deixa-nos martelar ou aparafusar apenas o tempo necessário, então bate em nosso ombro e diz: "Seu Pai pode cuidar disso para você". E para prová-lo, leva-nos à oficina do Pai. Com um movimento das mãos, Ele orgulhosamente proclama: "Nosso Pai está no céu!"

Olhe o Sol! Cada metro quadrado de sol está constantemente emitindo 130.000 HP, ou o equivalente a 450 motores de oito cilindradas. E mesmo o Sol, embora tão poderoso, é uma das menores estrelas nos 100 bilhões de órbitas que compõem nossa Via Láctea. Segure uma moeda entre os dedos, e estire o braço em direção ao céu, permitindo que ela lhe eclipse a visão. Você terá bloqueado de sua vista quinze milhões de estrelas.

Pense na Terra! O peso de nosso globo tem sido estimado em seis sextilhões de toneladas (um seis com vinte e um zeros). E ele está ajustado em vinte e três graus. Um pouco





Uma afeição celestial

mais, ou um pouco menos, e nossas estações seriam perdidas numa inundação pelo derretimento dos pólos. Embora o globo terrestre gire mil milhas por hora, ou vinte e cinco mil milhas por dia, ou nove milhões de milhas por ano, nenhum de nós cai em sua órbita. Nosso Deus, que "O norte estende sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada" (Jó 26.7), também criou uma faixa de gravidade invisível para manter-nos seguros.1

Agora, enquanto você se posta no observatório olhando o workshop de Deus, deixe-me propor algumas questões. Se Ele é capaz de dispor as estrelas em seus lugares, e suspender o Céu como um cortinado, você acha que é remotamente possível Deus guiar-lhe a vida? Se o seu Deus é poderoso o suficiente para acender o Sol, seria Ele poderoso o suficiente para iluminar-lhe o caminho? Se ele cuida do planeta Saturno o bastante para dar-lhe anéis, ou de Vênus, para fazê-lo cintilar, haveria alguma chance de Ele cuidar de você o bastante para suprir-lhe as necessidades? Ou, como disse Jesus,

Olhai para as aves do céu que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestido, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham, nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? (Mt 6.26-30)

Por que Ele fez isto? Uma cabana teria bastado, porém Ele deu-nos uma mansão. Ele tinha necessidade de dar uma canção aos pássaros e um pico às montanhas? Precisava por listras na zebra e corcova no camelo? Teríamos sabido a diferença, se Ele fizesse o ocaso cinza, em vez de laranja? Por que as estrelas possuem cintilações, e as ondas, cristas nevadas? Por que salpicou o cardeal de vermelho, e vestiu a baleia de branco? Por que envolveu a criação em tal esplendor? Por que Ele preocupou-se em dar tantos presentes?





O OBSERVATÓRIO

Por que você o faz? Você faz o mesmo. Tenho visto você procurar um presente. Tenho visto você espreitando no shopping center, percorrendo as galerias. Não estou falando dos presentes obrigatórios. Não estou descrevendo as compras de última hora, na perfumaria, a caminho da festa de aniversário. Esqueça as liquidações e os descontos. Estou falando daquele dinheiro tirado das compras mensais do supermercado, guardado pouco a pouco, para comprar umas botas de couro de lagarto; estou falando de ficar olhando mil anéis, a fim de achar para ela o melhor brilhante; de passar acordado toda a noite de Natal, montando a bicicleta nova. Por que você faz isto? Você o faz, porque os olhos irão se arregalar. Você o faz, porque o coração parará. Você o faz, porque o queixo cairá. Você o faz para ouvir aquelas palavras de descrença: "Você fez isto por mim."

É por isso que você o faz. E é por isso que Deus o fez. Da próxima vez que a aurora prender-lhe a respiração, ou um prado em flores deixá-lo mudo, lembre-se desse detalhe. Não diga coisa alguma, e ouça como o Céu cochicha: "Você gostou? Fiz isto para você".

Estou prestes a falar-lhe de algo que você pode achar difícil acreditar. Você está prestes a ouvir uma opinião que pode espichar-lhe a imaginação. Não precisa concordar comigo, mas eu gostaria que você a considerasse.

Você não precisa comprá-la, mas ao menos pense a respeito. Aqui está: Se você fosse a única pessoa na Terra, esta pareceria exatamente a mesma. As montanhas do Himalaia ainda teriam o seu drama, e o Caribe ainda teria o seu encanto. O Sol ainda se aninharia atrás dos montes à noite, e espalharia luz sobre os desertos pela manhã. Se você fosse o último peregrino sobre este planeta, Deus não diminuiria um grau de sua beleza.

Porque Ele fez tudo isto para você... e está à espera de que você descubra os presentes. Está esperando que você saia da toca, esfregue o sono dos olhos, e veja a brilhante bicicleta vermelha que Ele montou só para você. Está esperando que seus olhos se arregalem e seu coração pare. Está esperando pelo momento entre o cair do queixo e o pular do coração. Pois nesse silêncio, Ele se inclina para você e sussurra: Fiz isto só para você.




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